quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Sudário - Vale do Açu (2017)...




Vale do Açu é um nome forte. Se refere a uma formação na porção oeste do Rio Grande do Norte. Parece dizer de alguma terra mística, uma montanha paradisíaca ou um lugar secreto cheio de pássaros, cantos e sombras, mas é também só o nome de um prédio. Prédio em que o músico célebre desconhecido, Adriano Sudário, compôs boa parte das canções do disco que compartilho com vocês agora. O disco — primeiro lançamento da Brasinha Discos, um selo vindo de Natal que pretende auxiliar no processo de construção de pontes entre os submundos underground do Rio Grande do Norte e demais partes do país — segue esse mesmo jogo duplo de grandiosidade e despretensão. Soa como um jogo de recortes, canções bastante diferentes, como que separadas por diferentes idades, diferentes tempos, diferentes almas, níveis muito diversos de pretensões, todas unidas por um mesmo fio condutor lúcido e ao mesmo tempo quase invisível que se mostra em cada canção em intensidades diferentes. Melodias que seguem independentes e despreocupadas. Existe um conflito constante entre um passado brilhante, mas quase empoeirado, aura, e uma espécie de diário da demência da vida emprisionada da cidade grande. Como um filho-perdido-no-tempo de Baden Powell, uma cria do nosso samba velho imersa nos delírios e na preguiça da nova-adolescência do século XXI, cantos do mato e do abaeté atravessados por impulsos eletrônicos e mirações psicodélicas, aprisionadas num registro lo-fi que faz-se sentir como um claustrofóbico apartamento, entre a solidão, o conforto e as fugas ao ar livre. Essas transições temporais são bruscas, como se fossem viagens ao passado, sonhos... a beleza das confusões entre o acordar e o dormir... Continue Lendo
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