quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Philippe Meyohas - Alvíssaras EP (2015)





Alvíssaras é um EP sobre a passagem – a passagem que se propõe, se vislumbra, apesar da desventura que se atesta: o alento que supera o desalento, a esperança que supera a resignação. "Alvíssaras", exclamação de boa nova, resume da obra um desejo de júbilo, apesar da devastação que se cerca – tendo na devastação sua essência.O breve trabalho, estreia de Philippe Meyohas, traz quatro canções. Porém não “canções” enquanto formato, tema arranjado, mas como forma: conjugação estreita entre os lirismos verbal e musical, com raízes tanto em cancioneiros regionais quanto na semântica musical que propõe a orquestração erudita. As melodias fortes e concisas, que transportam os lamentos do autor – e de grande remissão folclórica – são endossadas, sublimadas, pelo movimento calculado dos contrapontos que as corta.O resultado é uma obra de perspectivas abundantes, trazendo em cada faixa um elemento engenhoso: os cantos, ambos da voz de Meyohas, que se entrelaçam e se concluem no desfecho de "Ponte", a polifonia instrumental que se exalta na introdução de "Serra da Estrela", as diversas melodias que se repetem, se acrescem e se cruzam no encerramento solene, quase sacro, de "Bem Depois de Tudo Alguém Virá".Há um tom grave que permeia todo o EP. Que não se deve apenas aos dois contrabaixos harmonizados, mas também a seu conteúdo dramático, acentuadamente melancólico. Alvíssaras é um disco de um expatriado, de alguém em constante fuga, que relembra a terra justamente para abandoná-la na busca por outro lugar, outra condição. Sendo frequentes as menções ao movimento, ao desterro: se perder pela Serra da estrela, cruzar a Boa Esperança ou mesmo de atravessar uma ponte anônima que o unirá ao seu amor. Acompanhado pelo "vento triste", que "segue aonde se quer chegar", através das "tristezas derramadas" para "sangrar a saudade" por um "fado brutal" que "é em vão".
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