terça-feira, 20 de novembro de 2012

Michael de Barros - Coisas Que Se Guardam Na Cabeça (2012)...





Michael de Barros é nome de batismo. A primeira vista Michael pode parecer um nome tão universal; mas não é. Os michaels recebem olhar desconfiado e grafia onomatopéica. Não é como os marcelos, márcios e maurícios. Agora é tarde pra abandoná-lo. Vai de Michael mesmo. Nasci e vivi paulistano por 15 anos. O achatamento da porção inferior da classe média de São Paulo nos fez retirantes. Minha mãe retornou ao Rio Grande do Sul comigo na mala. Me autoproclamo gaúcho. Daqueles ufanistas. Filho único, de pais que não constituíram família; nem entre si, nem com terceiros. Eram viajantes por dever de ofício. Cresci sozinho enquanto ganhava altura. Não há melhor escola para a imaginação do que ser filho único. Escrever em poesia vem de pequeno. Não sei porque escrevia. Sentia que tinha um dever. Aos 12, com um violão na mão - e vários discos na cabeça - era lógico juntar tudo. “Meu Deus, eu fiz uma música!” Sabia que com várias fitas K7, um microsystem 3-em-1 com dois decks e uma entrada pra microfone dá pra mixar uma canção? É, dá pra fazer uma base, um solo, colocar uma voz e ainda fazer uma batida com o corpo do instrumento. Onde estariam essas fitas hoje? Pertenci a pouquíssimas bandas. Todo mundo queria tocar cover. Nunca entendi. Na casa dos 20 formei uma banda chamada Projeto Stereo com mais dois caras. Nunca conseguimos encontrar um baixista. Baixistas e goleiros são itens raros no mercado. O repertório até que era vasto, perto de trinta músicas. “O que que vocês tocam?”. “Nossas músicas.”. “Que estilo que é?”. “Ah, a gente considera pop rock alternativo.” “E vocês nunca gravaram nada?”. “Só uma chamada 'Tarde' que tá na coletânea Safra Capilé 2006 da Plus Records.” Ficávamos restritos a nós mesmo. E éramos felizes. Mais tarde arrependi-me de não ter gravado todas aquelas músicas. Nem que fosse apenas para registrar a época. Como uma fotografia. Não quero mais perder essas oportunidades. Eis o significado da palavra canção pra mim. Por vezes uma história contada, uma biografia, a descrição de um sentimento, uma sensação. Pode ser ficção, ou uma grande licença poética, por vezes experimental, feita pra chorar...feito por chorar. Cada canção é um curta-metragem sonoro. Coisas Que Se Guardam Na Cabeça é um disco pequeno. São apenas 6 músicas. Porque não chamar de EP? Bom, EP (ou LP) só fazem sentido, verdadeiramente, no vinil. Infelizmente não é o caso. Além disso, ele tem quase 30 minutos de música. Enfim, considero um disco. Um disco de curta-metragens sonoras. Não há uma linha temática central. Não pude me dar ao luxo. Por isso não me sinto culpado. Os temas surgem e não há como escapar. E escapar para quê?...
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