quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Sentidor - Memoro Fantomo_Rio Preto (2016)




"“Memoro Fantomo_Rio Preto” é um disco duplo sobre a queda num abismo e os momentos antes dela. Um diário sensorial sobre a depressão e um estudo artístico sobre a mente e as memórias. Compor essas músicas foi a minha forma de dar sentido a um período de perigosa dessignificação na minha vida. Elas funcionam como a trilha de migalhas de pão no meio do caos; são uma linha de acesso aos porquês e aos prelúdios que apenas agora consigo começar a compreender e acessar. Trilhando de alguma forma o mesmo caminho começado em “Dilúvio”, Memoro Fantomo – Memória Fantasma, em esperanto – é uma viagem a memórias não resolvidas. Cada uma das oito faixas representa de alguma forma uma dessas memórias que me acompanharam à força durante o processo de feitura dessa parte do álbum: Os meses de novembro e dezembro de 2015, e janeiro de 2016. As faixas são explorações sensoriais dessas lembranças, e funcionaram como tentativas de lidar com elas: durante esses meses, eu costumava voltar pra casa de madrugada, sem conseguir dormir; eu então pegava meu computador e compunha as paisagens sonoras até que as memórias se tornassem menos incômodas. Por isso o disco tem o tom tão ambiente e denso; antes de funcionarem como arte, “Memoro Fantomo” serviu pra mim como terapia emergencial. Na versão final do álbum, cada faixa é acompanhada por uma foto – com excessão de Dezembro, que vem acompanhada de um cena do filme “Walden”, de Jonas Mekas – e uma série de anotações. Todos os três conteúdos atuam da mesma forma, como abordagens, desabafos e reflexões a respeito das memórias fantasmas. “Rio Preto” por sua vez é um retrato – também abstrato e sensorial – da minha última crise depressiva, que teve início no fim de Maio de 2016. Ela se desencadeou poucos dias depois do meu retorno de uma viagem realizada à Reserva Estadual do Rio Preto, que fica próxima à cidade de São Gonçalo do Rio Preto. Durante os três dias que passei lá, visitando cachoeiras e sítios de pinturas rupestres, participando de um documentário como captador de som direto, as memórias fantasmas se tornaram mais intensas e se transformaram num curioso êxtase que durou quase os três dias. “Rio Preto” foi inteiramente composto no meu quarto, durante a crise de depressão, numa espécie de retrabalho das experiências vividas no Rio Preto. Cada uma das cinco faixas é também acompanhada de uma foto, todas elas tiradas no Rio Preto. As duas metades do disco são trechos de uma mesma crescente psicológica. As memórias fantasmas são a expressão de uma série de dilemas e questões envolvendo o tempo, a memória, o luto e a separação, questões que acabaram por desencadear o processo com o qual tenho lidado nos últimos meses, desde o retorno da viagem ao Rio Preto. São objetos de extremo valor emocional, e são músicas muito pessoais. Compartilho tudo isso em forma de um disco instrumental na esperança que possa tocar alguém, e que possa ajudar da mesma forma que me ajudou. Sem ter de se preocupar com as palavras, o corpo às vezes encontra outras formas de dizer o que precisa. É nisso que se resume esse disco: uma entrega radical de intimidade, a quem quiser tentar ouvir. Espero que a experiência seja rica."
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