segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Cássio Figueiredo - Expurgo (2016)...




Em seu novo trabalho, o carioca Cássio Figueiredo explora diálogos internos em ambientes conturbados e, às vezes, pela enorme massa sonora, intransponíveis. Logo de cara, temos um problema: como expelir coisas tão íntimas em ambientes que, mesmo tão grandiosos, nos enclausuram? Ao mesmo tempo em que o sujeito quer ascender, ele é paralelamente maravilhado e interrompido pela vastidão. Os nomes das canções, em sua maioria, tratam de ações e insistência. A experiência que eu tive na primeira audição de “Expurgo” é um paradoxo perturbador: eu quero ascender, eu estou fechado. Não se trata de uma questão filosófica apenas, mas como se inserir em outros lugares que não a realidade? Talvez o ato de expurgar exija mesmo frequentar os lugares mais inóspitos, como na pedrada que é “Entortando, Entortando, Entortando, Maquinando O Composto, Desviando Da Ilha”, em que somos arremessados pra “Rua São João De Frente Pro Terminal”, em um ambiente translúcido, muito parecido com alguma disfunção cerebral em um dia qualquer. A trajetória fica ainda mais abstrata e conjuntamente obscura em “Os Cheiros Das Épocas E Os Lençóis Que Me Cobriam Eu Chamava De Atmosfera”, em que vemos que a limpeza do sujeito do disco pode muito bem ser feita em favor de sua perspectiva que mais desafia o real. Ou, ao menos, quer testar sua própria concepção de realidade, em um processo de desenvolvimento bem devagar e multifacetado que tem como única missão despedaçar qualquer ideia de integridade. A intensidade de “Expurgo” não está apenas em seus ruídos, mas na maneira em que todas suas captações nos imergem em contrariedades, desencontros com o instituído – todas essas deformidades que deveriam nos tornar transtornados, são encaradas pelo Cássio como o único processo possível de limpeza. São composições que se desintegram (e se integram) no avançar das peças. A única maneira de fazer qualquer limpeza é se dividir, se refratar, é se sujar de outra maneira... Leia Mais
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