domingo, 18 de janeiro de 2015

Vitor Colares - Veredas: Cores e Sinais de Cavalos (2015)...




Tocar guitarra sozinho pode ser um processo menos solitário do que se imagina. Hoje em dia, e cada vez mais, existem pedais de loop e formas variadas de fazer overdubs de suas próprias linhas de guitarra ao vivo e seguir (re)criando em cima daquilo que você acabou de deixar gravado em um ciclo. Meu amigo Ivo, outro amante dos delays e loops, costuma dizer que “com um delay nunca se está sozinho”, e ele tem razão. Durante muito tempo a minha prática da guitarra esteve acompanhada de pedais de delay e loop, e, consequentemente, se baseou muito nessa criação/sobreposição de camadas de guitarra, onde cada uma explora timbres/cores/aspectos diferentes tanto da guitarra quanto dos pedais e as diversas formas de usá-los. Ao longo deste ano que acabou de passar, 2014, me vi interessado justamente pelo que digo ser o contrário desse processo que já estou acostumado. Venho me interessando pela nudez da guitarra, por ela sozinha, por ela “em si”, mais nua e crua do que em qualquer outro momento anterior meu. Não tão ortodoxamente quanto alguns poderiam achar/fazer, mas com a devida nudez que me cabe. Como em um exercício de meditação, quis focar na respiração, ou, nas respirações: da guitarra, da música e minha, e na profunda “intimidade” entre estes três elementos, mesclando influências minhas de cores, sensações e espaços, tentando despir(-nos) das camadas de efeitos/adereços. É curioso imaginar que inicialmente este disco seria um disco com muitos efeitos, que eu queria fazer estas "Veredas" acompanhado de meus pedais, juntando seus efeitos em combinações alternativas e, de repente, me deparo com esse interesse, justamente "contrário", justamente pelo "não-uso" de pedais, vindo de encontro aos dos meus planos. Algumas ideias foram se juntando e com elas referências, e este disco foi acontecendo... Me trouxe, entre outras, a imagem de veredas, e me lembrei de Guimarães Rosa. Os nomes de cores e sinais de cavalos me vieram através de um dicionário analógico da língua portuguesa. E, no calendário chinês, este ano em que ainda estamos e que só acaba em fevereiro de 2015 agora, é ano do cavalo, meu signo também. Quando me vi rodeado de cavalos por todos os lados, os desenhos da Liz foram a melhor maneira de imortaliza-los. Tenho a sensação de que não poderia haver nada melhor para representar estas músicas. Até porque este som me lembrou algo de uns sons que ela me apresentou em 2013. Os títulos alternativos, que estão entre parênteses, tem uma tanta influências dos títulos que a Raísa e o Rodrigo colocam em suas obras, desenhos, textos e músicas. Já a escolha de "qual desenho seria de qual música", eu e o Diego Maia fizemos isso enquanto escolhíamos a cor e a fonte e ouvíamos o disco. No meio da cartografia dessas Veredas existem certos, ou outros, pontos cardeais que servem para nortear o cavalgante e que eu gostaria de registrar minha lembrança... Erik Satie, Dorival Caymmi, Brian Eno, Vincent Gallo, Neurosis... São algumas das imagens que estavam penduradas na parede da fotografia do dia 8 de setembro de 2014, noite de lua cheia. “Portanto, quando a alma de uma pessoa cai num grande excesso de alguma paixão, pode-se provar experimentalmente que ele (o excesso) liga (magicamente) as coisas e as modifica no sentido em que ele quiser.” Disse Jung em alguma página do seu livro Sincronicidade. Escute este álbum no escuro....

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